segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO

O DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO
Maria Eliane Azevedo da Silva
 
O sentimento religioso nasce e amadurece no encontro com pessoas significativas na trajetória da existência humana. Assim,  o “eu” ou “self” religioso é uma dinâmica relacional.
 
A religiosidade comporta o encontro com  outro

            James William Fowler, psicólogo e teólogo americano, estudioso do desenvolvimento da fé na perspectiva psicológica, apresentou em sua obra clássica (1981) “Estágios da Fé: Psicologia do Desenvolvimento Humano e Busca de Sentido” um diálogo com teólogos, cientistas da religião e estudiosos do desenvolvimento cognitivo, moral e psicossocial, como Jean Piaget, Lawrence Kohlberg e Erik Erikson. Vinte anos mais tarde ampliou sua teoria, no diálogo com Daniel Stern sobre a constituição do self e Ana Maria Rizzuto sobre a representação das imagens de Deus.

A inovadora contribuição de Fowler abriu espaço para estudos do desenvolvimento do “eu religioso”. Para Edênio Valle (2007), professor de Psicologia Científica da Religião na PUC/SP,  a religiosidade comporta um encontro com o outro (o Outro) e o modo como esse encontro é vivenciado inscreve-se no itinerário de vida e autopercepção de cada um.  Pode-se dizer que o tema é atual e motivador para a continuidade de pesquisas e estudos de Psicologia, Educação, Ciência da Religião e outras áreas afins.

Para Fowler, a  fé ultrapassa a adesão a uma religião e emerge das relações da pessoa desde os primeiros anos de vida. O sentimento religioso assenta-se na matriz relacional e a fé humana é a base da fé religiosa. O autor vê a fé como integrante da personalidade e engloba a construção dos relacionamentos e dos propósitos e significados da vida.

Texto completo na Revista Diálogo - Editora Paulinas.
Diálogo - revista de Ensino Religioso. Ano XVIII n. 71 – Agosto/Setembro de 2013. Seção  Artigo

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

SIMPÓSIO - ENSINO RELIGIOSO

O Simpósio será um evento relevante para a área de conhecimento - Ensino Religioso.

"A DIÁLOGO – REVISTA DE ENSINO RELIGIOSO e o GT Religião e Educação, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) , propõe sistematizar a discussão sobre a relação entre o Ensino Religioso e a Ciência da Religião como área do conhecimento, uma reflexão que sustenta a proposição para a efetivação de uma licenciatura dos professores deste componente curricular. Mas, para que possamos articular esta proposta de formação, é necessário melhor definir a identidade da disciplina. Por este motivo, ao celebrarmos os 18 anos da revista DIÁLOGO, importante instrumento de divulgação do Ensino Religioso brasileiro, voltamos à discussão para a questão O que ensinar? e à sua transposição didática para articular o Como ensinar?"

Local: Auditório Paulo Apóstolo - Paulinas

Público-alvo: Pesquisadores, docentes de Educação Básica, de Graduação e de Pós-Graduação e pessoas interessadas no tema.
Carga horária: 20 horas      Vagas: 250
Data: 22 e 23 de agosto de 2013
Programação
Dia 22 8h00 – Credenciamento
9h00 – Cerimônia de abertura
9h30 – Mesa 1 – Prof. Dr. Afonso Soares - Lattes - (PUC-SP) Temática: Das Ciências da Religião ao Ensino Religioso, introdução ao tema geral
10h30 – Intervalo
11:00 – Mesa 2 – Prof. Dr. Frank Usarski - Lattes - (PUC-SP) e Prof. Dr. Silas Guerrieiro - Lattes - (PUC-SP) Temática: O que é religião Moderador: Prof. Dr. João Décio Passos - Lattes - (PUC-SP)
12h20 – Almoço
14h00 – GTs
16h00 - Intervalo
16h30 – Apresentação multimídia dos 18 anos da revista DIÁLOGO
17h00 – Conferência 1 – Prof. Dr. Ubiratan D'Ambrósio - Lattes - (USP) Temática: Os tipos de conhecimentos

Dia 23 8h30 – Mesa 3 – Prof. Dr. Sérgio Junqueira - Lattes - (PUC-PR) e Prof. Ms. Edile Fracaro - Lattes - (GPER) Temática: Ensino Religioso, o que ensinar?
10h00 – Intervalo
10h30 – Mesa 4 – Prof. Dr. Antonio Boeing - Lattes - e Prof. Ms. Sonia de Itoz - Lattes - Temática: Questões metodológicas do Ensino Religioso
12h00 – Almoço
13h30 – Grupos de Trabalhos Temáticos
15h00 – Intervalo
15h30 – Conferência 2 - Ms. Maria Eliane Azevedo da Silva - LattesTemática: O desenvolvimento religioso
16h30 – Mesa 5 – Me. Luzia Sena -
Lattes - fsp e Ms. Maria Inês Carniato, fsp
Temática: Revista DIÁLOGO 18 anos, memórias e perspectivas
 



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO

Espaço do desenvolvimento humano e religioso¹
Maria Eliane Azevedo da Silva²

Esta temática me fez pensar na obra literária do Filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962), A poética do espaço. Considerando a riqueza do espaço família-casa e do espaço escola-casa, pretendo provocar uma reflexão inicial sobre a importância do estabelecimento de vínculos entre as pessoas que constituem tais espaços para o desenvolvimento do “eu” religioso da criança e do adolescente. Este artigo é uma tentativa de apresentar a importância da experiência de reciprocidade entre as pessoas para o desenvolvimento da religiosidade, bem como para o conhecimento da cultura religiosa. A vinculação família e escola apresenta-se muitas vezes com rachaduras e é preciso reaprender a arte de sonhar com realidades novas. Para cultivar sonhos se faz necessário acordar desejos adormecidos e buscar o que dá sentido ao viver humano. Penso que a ‘casa-família’ e a ‘casa-escola’ devem se transformar no espaço favorável ao desenvolvimento de utopias e busca do transcendente. Assim, Gaston Bachelard descreve que a casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa nos permite sonhar em paz; representa o grande berço, o aconchego e a proteção, desde o útero materno até os últimos dias da existência terrena. Para este autor a imaginação criadora é portadora das sementes de transformação, grande impulsionadora do pensamento e da dinamicidade para criar a experiência de encontro. Assim, a “casa” é o espaço interno e externo que abriga o ser humano na sua essência. Neste texto, a casa refere-se ao espaço “família” e o espaço “escola” que abrigam pessoas e são fontes de aprendizado, construção de significados, compartilhamento dos mesmos e desenvolvimento do sentimento religioso. Estes espaços no contexto atual estão dominados pela tecnologia, consumo, velocidade das informações, fragilidade nas relações interpessoais, pluralidade cultural, meios de comunicação social e por tudo o que influencia e constitui a nossa realidade de seres humanos no século 21. Estas questões expressam algumas das dificuldades na atualidade para a compreensão do valor da religiosidade na formação das crianças e adolescentes.
 
A família e a escola no desenvolvimento da fé
 
Alguns conceitos ampliam a nossa visão sobre a missão da família e da escola como espaços favoráveis para o desenvolvimento da religiosidade: • A Religião, para vários estudiosos, é uma realidade culturalmente construída, constituindo um conjunto estruturado de pensamentos e sentimentos, através do qual o ser humano aprende, conhece e toma consciência do sentido último da sua existência - Deus. A religião, como um sistema organizado de crenças, símbolos, práticas, rituais, é uma mediação para o encontro com o outro e com o sagrado, o transcendente, Deus. • A religiosidade pode ser compreendida como uma maneira pela qual a pessoa acredita, segue, pratica uma religião, sendo influenciada pelo contexto cultural, no qual nasce, cresce e se desenvolve. • A experiência religiosa é uma experiência amorosa, vivenciada de dentro, repleta de sentido e valor. A ênfase está na vivência pessoal influenciada pela transmissão cultural e religiosa do mundo em que vive, transformando a vida e ampliando a visão de si mesma, do outro, do mundo e de Deus. Religião, religiosidade e experiência religiosa são três pilares na formação do “eu” religioso e no processo de humanização das relações e busca do sentido da vida. Assim, a família e a escola são espaços privilegiados para o despertar do conhecimento interligado destes pilares, o que possibilita uma compreensão da religião para além de uma instituição religiosa e transmissão de doutrinas, mas a religião como um espaço mediador do encontro com o outro e com o grande Outro – Deus. O “eu” religioso constitui-se pelas experiências de mutualidade, como diz o psicólogo da religião Edênio Valle, a religiosidade comporta um encontro com o outro - o Outro. Para o pesquisador do desenvolvimento da fé James Fowler, nós nascemos com capacidades para serem ativadas e para vincular nossas emoções com o espírito. Para este autor, onde esta mutualidade de relações se faz presente e consistente, o bebê mostra uma forte predisposição para formar vínculos, para recrutar o amor e o cuidado dos adultos, para crescer em direção a relacionamentos saudáveis. O desenvolvimento do sentimento religioso apresenta uma dimensão relacional, na qual James Fowler descreve como a tríade da fé formada pelo eu, o outro e os centros de valor e poder compartilhados - família, escolha de valores, poderes que sustentam e dão sentido à vida humana. Na sua visão, a fé é uma categoria mais fundamental da busca humana de relacionamento com a transcendência, seja ela religiosa ou não; é uma forma ativa de ser e comprometer-se; é um meio de adentrarmos e modelarmos nossas experiências de vida e é sempre relacional. Esta temática comporta uma amplitude de ideias, mas destaco a vinculação humana, na qual emerge a vinculação com Deus. Nós lemos, ouvimos muito sobre as várias dificuldades encontradas pela família e escola no despertar da religiosidade, mas pouco tempo paramos para refletir sobre o prisma dos encontros interpessoais.
 
Contribuições da família e da escola
 
Como a família e a escola pode contribuir para o desenvolvimento religioso das crianças e adolescentes? Muitas respostas poderíamos elencar, mas acredito que o essencial está na construção de significados e no compartilhamento dos mesmos através da experiência de encontro. Alguns princípios podem nos ajudar, como educadores e eternos aprendizes: • Fé e cultura religiosa. Valorize a dimensão histórica e religiosa no contexto cultural do mundo contemporâneo. Reconheça na realidade atual a possibilidade de reaprender o valor da tradição religiosa, como mediação para a experiência religiosa. Reaprenda o olhar para você, para o outro, para a natureza e para Deus, desenvolvendo a dimensão da fé religiosa na cultura em que você está inserido. • Ressignificação de valores. Reconheça no espaço-família e no espaço-escola a possibilidade e oportunidade para uma relação significativa que desperta o coração e a mente para a vivência dos valores que edificam a vida no Planeta. Os valores aprendidos da cultura religiosa fortalecem o nosso ser em relação com os demais seres vivos. • Utopias e sonhos. Cultive a capacidade de sonhar de forma criativa e deixe fluir em sua vida pessoal e social a riqueza da utopia. A esperança aumenta a nossa capacidade de superação dos conflitos e nos faz corajosos para amar e contribuir com um mundo mais saudável. • Rede de relações. Cultive a disposição interior para reconhecer o significado das experiências vividas, do encontro com as outras pessoas e o prazer do encontro com o Criador de tudo e de todos. A chave para o desenvolvimento da religiosidade supõe esta travessia na busca do sentido da vida e da transcendência. Você é um ser social e reside em um espaço interativo. Abrace os valores que sustentam a sua experiência religiosa e seja agradecido a Deus. E assim, finalizo este breve texto refletindo que não existem dificuldades para a contribuição na formação religiosa das crianças e adolescentes, o que existe é uma oportunidade para que família e escola cresçam no conhecimento do que é religião, religiosidade e experiência religiosa. Acredito que muitos caminhos se abrem quando não buscamos respostas prontas, mas quando nos deixamos nas mãos do Criador para sentir e viver a experiência amorosa que nos torna mais humanos e convictos da filiação divina.
 
  ¹ Fonte - Diálogo: Revista de Ensino Religioso. São Paulo: Paulinas Editora, ano XVII, nº 67, agosto/setembro 2012.
 
  ² Maria Eliane Azevedo da Silva. Mestra em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), psicóloga e pedagoga. Membro da Congregação das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus. Atua em clínica psicoterápica e assessoria para instituições educacionais e religiosas.
 
Referências bibliográficas
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. In: Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1978. FOWLER, James W. Estágios da fé: Psicologia do desenvolvimento humano e busca de sentido. São Leopoldo-RS: Sinodal, 1992.
SILVA, Maria Eliane A. da.; SOARES, Afonso M.Ligorio. Formação docente e o Ensino Religioso: Resultado preliminar de levantamento sobre teses e dissertações no Brasil. In: Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral. Curitiba,PR: Champagnat, 2010.
VALLE, Edênio. Psicologia da Religião. In: USARSKI, Frank. (org). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2007.
_________.Psicologia e experiência religiosa: Estudos introdutórios. São Paulo: Loyola, 1998.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ensino Religioso: uma expressão simbólica

Na obra "Educação e Literatura", Gabriel Perissé apresenta de uma maneira  maravilhosa o significado da palavra criadora de mundos, uma palavra criativa e criadora. Para este autor, a palavra cria sentidos  e explicita relações.
Um dos grandes desafios na área de conhecimento do Ensino Religioso parece estar interligado com a questão da expressão simbólica dos relacionamentos do ser humano consigo, com o outro, com a natureza, com o mundo.
Assim, recomendo a leitura da referida obra para uma reflexão crítica de um Ensino Religioso que contemple a dimensão criativa e de respeito às diferentes manifestações da religiosidade no mundo em que vivemos.
Nós, educadores e cientistas da religião, precisamos avançar na reflexão da palavra que cria e recria a vida  unindo o humano e o sagrado.

domingo, 13 de novembro de 2011

EDUCERE E O EIXO TEMÁTICO ENSINO RELIGIOSO




O X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE e o I Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, teve como objetivos: Disseminar o conhecimento resultante das pesquisas e estudos realizados nos cursos de graduação e pós-graduação em Educação; Promover o aprofundamento de pesquisas no âmbito da educação básica e da educação superior; Discutir questões investigadas nos grupos de pesquisa da área de Educação; Ampliar a integração dos diferentes cursos de pós-graduação que se ocupam da formação de profissionais da educação; Analisar as políticas públicas que orientam as teorias e as práticas de formação de profissionais da Educação; Mobilizar pesquisadores, gestores públicos, educadores, pais, alunos e a sociedade em geral a envidar esforços na promoção da inclusão e justiça social e na construção de uma cultura de paz.

Os objetivos propostos, na minha visão, foram provocadores de grande discussão entre os pesquisadores e estudiosos presentes no evento.

No eixo temático “ENSINO RELIGIOSO” , coordenado pelo prof. Dr. Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, foram apresentados os seguintes trabalhos:

Dia 08/11/2011

• Curso de Fundamento e Metodologia do Ensino Religioso – Um registro histórico.
  Autor: Edile Maria Fracaro Rodrigues (FACINTER)
  Co-autores: Rachel de Morais Borges Perobelli (FATEV); Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (PUCPR)

• O Ensino Religioso na Educação Adventista.
  Autor: Francisco Luiz Gomes de Carvalho (PUCSP)

• O Pensamento Ético de Paul Ricouer como fundamento para um Ensino Religioso emancipatório e solidário.
Autor: Célia Marilda Smarjassi

• Questões político-pedagógicas do Ensino Religioso na escola pública brasileira.
Autor: Cézar de Alencar Arnaut de Toledo (UEM)
Co-autores: Meiri Cristina Falconi Malvezzi (UEM)

Dia 09/11/2011

• A Disciplina de Ensino Religioso no Estado do Paraná.
  Autor: Carolina do Rocio Nizer (SEED-PR)

• Trabalhando com Lendas no Ensino Religioso.
  Autor: Ionara Soveral Scalabrini (UPF)
  Co-autores: Karine Piaia (UPF)

• A Transversalidade entre Ensino Religioso Superior e Educação Básica na busca de uma Educação para a Paz.
Autor: Márcia Alves de Oliveira (SMEPG)
Co-autores: Maria de Fátima Mello de Almeida (SMEPG)
                   Nei Alberto Salles Filho (UEPG)

• Uma Experiência de Formação Inicial de Professores para Ensino Religioso a partir da perspectiva da Diversidade Cultural.
Autor: Lidia Kadlubitski (PUCPR)
Co-autor: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (PUCPR)

• O Conceito de Tolerância: a visão de Habermas
  Autor: Luíza Ribeiro Brum (UEM)

• O Ensino de Valores Cristãos através de contação de estórias: possibilidade de uma pastoral escolar
   Autor: Keith Mayra de Melo Alexandre (FEPAR)
   Co-autores: Flavia Diniz Roldão

• O Processo de Desenvolvimento da Fé e a Formação Docente, a partir de James W. Fowler.
  Autor: Maria Eliane Azevedo da Silva (PUCSP)

Dia 10/11/2011

• A ação do Professor Reflexivo no Ensino Religioso: autonomia e identidade.
  Autor: Gleyds Silva Domingues (FACEL)

• O legado da Umbanda nas aulas de Ensino Religioso
  Autor: Millene Ivolela (UNIFAE)
  Co-autores: Daniela Fernanda Prado Neves
                     Claudino Gilz (FAE)

• Os Espaços Sagrados como objeto de estudo numa perspectiva multidisciplinar no curso de Turismo.
  Autor: Raquel Panke (PUCPR)
  Co-autor: Valquiria Elita Renk (PUCPR)

• Religião e Livros Didáticos de Ensino Religioso: a invisibilidade da religiosidade da matriz africana
  Autor: Sérgio Luis do Nascimento (SEED-PR)

Considero que os trabalhos apresentados, no Eixo Ensino Religioso, podem ser sintetizados como alavancas de grande importância no processo de discussão de uma epistemologia para a formação docente de Ensino Religioso. Precisamos da continuidade de trabalhos teóricos e empíricos para colaborar no atendimento às demandas reais da formação docente na realidade brasileira.
Vamos alargando nossos espaços de estudo, pesquisa e reflexão para que o Ensino Religioso seja um processo integrador da formação docente.
Abraços, Maria Eliane Azevedo da Silva

terça-feira, 27 de setembro de 2011

GPER comunica novas dissertações

Newsletter nº 323 - Ano 7 - 21/09/2011 - Grupo de Pesquisa Educação e Religião PUCPR - comunica em seu site:

"O Ensino Religioso tem amadurecido em todo o Brasil por dois motivos a coragem das professoras e professores que no cotidiano das salas de aula com criatividade e competência. Outro é de que pesquisadoras e pesquisadores com honestidade científica procuram compreender a questão educacional religiosa em diferentes espaços. Recentemente foram defendidas quatro dissertações que trouxeram dados para ampliar elementos que irão colaborar na formação do ensino religioso:

01. Maria Eliane Azevedo da Silva. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA FÉ E A CONSTITUIÇÃO DO SELF NA PRIMEIRA INFÂNCIA, A PARTIR DE JAMES WILLIAM FOWLER. PUCSP: São Paulo, 2011.
Orientador: Edênio Valle

02. Débora do Nascimento Teófilo. O DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO DOS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI EM CURITIBA – PR. PUCPR: Curitiba, 2011.
Orientador: Sérgio Junqueira

03. Evanor Daniel de Castro. Uma Educação para altertrancender-se. A empatia como fundamento pedagógico para o Ensino Religioso. EST: São Leopoldo (RS), 2011.
Orientador: Remi Klein
Por meio dos conceitos de preocupação, responsabilidade e cuidado de si em Donald Woods Winnicott conceituou-se uma alteridade empática no ambiente pedagógico do Ensino Religioso. Colocou-se a práxis dessa alteridade como propícia para estabelecer um ambiente suficientemente bom entre os educandos e os profissionais do componente curricular do Ensino Religioso. Tal alteridade propicia um ambiente de segurança, aconchego e confiança que, por conseguinte, forja um ambiente adequado para o exercício da criatividade e da autonomia dos sujeitos. Baseado nos estudos psicanalíticos de Winnicott e de Ana-Maria Rizzuto, sinaliza-se que essa práxis reforça situações de cuidado vivenciadas na tenra infância, bem como enaltecem ou esmaecem as imagens do Transcendente que, em última análise, são reflexos das experiências de cuidado junto aos provedores paternos. Por fim propõe-se uma prática que faça jus ao que o profissional do Ensino Religioso representa na sala de aula nos conteúdos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso. Tal postura de coerência epistemológica garantiria a imaginação, a criatividade e a autonomia dos educandos, o encontro de seus limites e com os limites do outro. E à medida que o docente cria um ambiente favorável ao aprendizado por meio da preocupação, da acolhida e da empatia, o profissional do Ensino Religioso promove um resgate de momentos de descuidado existente na história do educando, permitindo que sua agressividade seja acolhida e canalizada por meio da criatividade. É destruindo o não-eu que o eu sou se manifesta. Na destruição deve haver a sobrevivência do cuidador para poder ser reconhecido como alguém oferecedor de amor. Havendo isso o sujeito passa a estar habilitado para sentir culpa diante da destruição e, por conseguinte, retribuir a quem tanto o quer bem. Essa experiência às vezes precisa ser vivida em sala de aula por quem tem histórico de carência afetiva. A “sobrevivência” do docente permite o outro aprender a cuidar de si, do outro e estabelecer os seus limites. Permite ir ao encontro do seu limite e o do outro. Quando isso acontece o outro passa a ser ponte para transcendência. Preocupar-se com o outro permite uma sociedade mais solidária e justa. Tal capacidade empática tem como consequência a transcendência a partir do outro. Por isso altertranscendência. A altertranscendência engloba o cuidado e o reconhecimento do outro, a solidariedade e a acolhida da finitude humana como pressupostos para a fraternidade. Portanto, temas existentes nas diversas culturas religiosas podem ser trabalhados em sala de aula como vislumbre de uma nova realidade social. Como lugar para imaginar e ser diferente. Em suma, a altertranscendência permite a autonomia dos sujeitos por meio do outro, por meio da capacidade de se responsabilizar.
Palavras-chave: empatia, confiança, altertranscendência, autonomia.

04. Adélio Ferreira Alves. Ensino religioso. Abordagens, convergências e divergências entre as escolas “Madre Paula” e “ Adão de Fátima Pereira” em Belo Horizonte e Sabará. Belo Horizonte: PUCMinas, 2011.
Orientador: Mauro Passos
Esta dissertação realizou uma pesquisa em duas escolas de Ensino Fundamental II, tendo como objeto de estudo a disciplina Ensino Religioso. O objetivo foi comparar as formas de transmissão e recepção do Ensino Religioso numa escola pública e noutra confessional, repensando os objetos de estudo dessa disciplina, bem como identificar as fronteiras que dividem a formação das “identidades religiosas”, analisando abordagens, convergências e divergências entre elas. O primeiro recurso metodológico utilizado foi a pesquisa ou revisão bibliográfica acerca de estudos sobre a Educação Religiosa confessional e não-confessional, tendo como finalidade dialogar com outros pesquisadores. As investigações se valeram também de alguns documentos de fonte primária, elaborados pela escola pública Adão de Fátima Pereira, em Sabará e pela escola confessional católica, Madre Paula, situada em Belo Horizonte. Outro método utilizado foi a observação direta e a metodologia da História Oral, seguida de questionários estruturados, respondidos por alunos e professoras de Ensino Religioso, buscando compreender a identidade religiosa herdada, que cada um (aluno e professor) traz consigo de seu ambiente familiar, religioso e social. A pesquisa é uma investigação qualitativa, embora utilizemos recursos da investigação quantitativa. Os resultados demonstram que as duas escolas analisadas, vêm ministrando um Ensino Religioso bem parecido, utilizam as mesmas metodologias, estudam os mesmos conteúdos, mesmos livros didáticos e os rituais acabam por privilegiar o cristianismo abordando, de forma tímida, outras crenças. Os resultados demonstram como ponto positivo, uma melhor qualificação das professoras entrevistadas, bem como o surgimento de vários programas de Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião, o aumento do número de seminários e congressos, entre outros que discutem a Educação Religiosa escolar. Percebemos os grandes avanços pós “emenda do Padre Roque”, pois hoje há o entendimento de que a dimensão religiosa faz parte do ser humano, dessa forma a disciplina Ensino Religioso deve estar intrinsecamente vinculada ao processo de educação e formação do sujeito integral.
Palavras-chave: Ensino Religioso. Educação. Confessional. Não-confessional
Fonte: http://www.gper.com.br/newsletter.php?id=233

sábado, 17 de setembro de 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO E CIÊNCIA(S) DA RELIGIÃO

De maneira simples, apresento a seguir  uma reflexão sobre Educação e Ciência(s) da Religião.
Foi muito enriquecedor o Colóquio da  área de concentração "Fundamentos das Ciências da Religião" - PUCSP, realizado no dia 15 de setembro 2011, sob a coordenação do prof. Afonso. 
Na parte da manhã foram apresentados alguns trabalhos e propostas dos grupos de pesquisa do Programa, prosseguindo com um rico debate introdutório à temática proposta.
Na parte da tarde, a explicitação dos professores Frank, João Décio e Eduardo mobilizaram a continuidade  de uma  pertinente discussão sobre a aplicação da Ciência da Religião no diálogo com outras áreas e em especial o campo da Educação. 
No decorrer do Colóquio, percebi que  falar de Ciência da Religião Aplicada demanda "fôlego" e uma construção dialógica com várias concepções teóricas, ancoradas em pesquisas atuais e contextualizadas.
A intervenção  breve do Prof. Ênio Brito foi muito significativa no debate iniciado, na parte da manhã. Com objetividade e clareza, ele nos fez refletir que falar em Ciência da Religião Aplicada não é algo tão simples.
O prof. Frank provocou discussões para um passo a frente na Ciência da Religião "Aplicada".
O prof. João Décio apresentou um rica sistematização sobre a relação Ciência da Religião e Ensino Religioso, oportunizando um debate crítico e propiciador de novos empreendimentos a serem realizados para o avanço da temática em questão.
O prof. Eduardo provocou um diálogo crítico e dinamizador da construção do conhecimento na academia, no qual os saberes são compartilhados e contextualizados.
Penso que  a construção do conhecimento é atravessada pela mediação do professor. Na  interação educador  e educando, o saber  é representado na forma de contéudo  e se torna significativo. Parece, que a Ciência da Religião no estudo do fenômeno religioso aponta para este referencial simbólico, o qual depende de uma aprendizagem significativa.
Fiquei pensando nos escritos do Prof. José Carlos Libâneo sobre educação. 
Acredito que, nesta discussão temática,  podemos referir a uma  citação apresentada na obra Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente

[...] a escola precisa deixar de ser meramente uma agência transmissora de informação e   transformar-se num lugar de análises críticas e produção da informação, onde o conhecimento possibilita a atribuição de significados à informação (LIBÃNEO, 2001, P.85).

Refiro também, aqui, ao pensamento do Prof. José Manoel Pires Alves, Universidade Católica de Brasília, no seu texto O conhecimento a serviço da vida, publicado nos Cadernos da RCE, ano 2008:


Para compreender o que se passa no mundo, o homem (educador e educando) precisa deixar de pensar de forma compartimentalizada. O homem não pode se tornar solidário sem compreender o contexto. É necessário conhecer o mundo em que vive. O próprio conhecimento crítico nasce da crítica e deve ser criticado. Sem o conhecimento social crítico não há solidariedade... ( ALVES, 2008, p.73).

Na minha visão, o Colóquio da Área de Concentração "Fundamentos das Ciências da Religião" atingiu o seu objetivo primordial para a discussão temática da aplicabilidade da Ciência da Religião.
O desafio está aí! Precisamos avançar nas pesquisas teóricas e empíricas para uma epistemologia sólida e uma intervenção dialógica com as outras áreas do conhecimento.
Vamos juntos ampliando a discussão e aprendendo, pois como dizia Paulo Freire "somos eternos aprendizes".
Um abraço de aprendiz,
Eliane